Nosso parto...Nosso ritmo...Nossa melodia...
Quando Nina nasceu eu
estava em um turbilhão de sentimentos... Um amor puro. Acho que isso é
consequência de um parto. De um parto feliz e humanizado. Agora 1 mês e meio
depois, o êxtase passou, mas estes sentimentos continuarão por toda a minha
vida.
Desde que descobri que
estava grávida, pensei em ter um parto domiciliar. Conversei com Gabriel, ele
aceitou e estava totalmente disposto a participar desta grande
"loucura". Nem todo mundo de nosso convívio achou uma boa ideia, mas
fomos firmes até o final.
A grande novidade foi
que enquanto lutávamos com a família para entenderem nossa decisão, o Brasil
todo lutava conosco. Como obra do destino, no ano de nascimento de Nina,
justamente no oitavo mês de gravidez, começou uma luta pelo parto humanizado no
Brasil e o grande tema era o parto domiciliar. Quer apoio maior que este?
Entramos de corpo e alma nesta luta junto a milhares de mulheres e homens a
favor da liberdade de escolha no momento de seu parto.
Nina estava prevista
para nascer dia 17/07/2012, no dia 05/07 já estava praticamente tudo
organizado, nos faltou deixar pronta a piscina já que queriamos que fosse parto
n'água. Já tinhamos a nossa parteira Regine Marton e nossa doula Bia da Terra.
Uma amiga já estava alerta para vir gravar o parto e uma outra amiga me havia
pedido antecipadamente para participar do parto. Em casa estaria também minha
mãe (totalmente contra a ideia, mas aceitou que eu fizesse o parto em casa) e
uma prima que veio passar uns meses aqui para ajudar em casa.
Essa seria a trupe
armada para o momento do parto. No dia 05/07 descubri que nas semanas seguintes
estariam aqui em casa uma tia e dois primos. E como eu queria que estivesse
apenas as pessoas programadas, me preocupei com a "superpopulação" na
minha casa. Falei Gabriel que queria que ela nascesse no sábado 07, antes que
chegasse a minha família e falei com Nina que se ela estivesse pronta, ela
podia vir que a estávamos esperando.
No dia 06/07 acordei
às 7 da manhã e vi um fio de sangue, depois começou a sair uma meleca suja... o
tampão estava começando a sair. Falei com Regine e ela disse que isso era um
começo, mas que podia durar muitos dias para começar o trabalho de parto, me
tranquilizei e apenas observei. Dormi tranquila e acordei no outro dia às 7 da
manhã sentindo uma cólica fraquinha, mas presente. Ela vinha e ia em um
intervalo de 1 hora. Avisei a doula e a parteira, mas isso ainda não se
caracterizava trabalho de parto.
Até que às 15 horas as
dores estavam mais fortes e com um intervalo de tempo menor, mas ainda eram
irregulares. Ligamos pra doula vir,
porque eu já precisava dela e a parteira ia esperar que as contrações
estivessem mais regulares. Me lembro da sensação ao ver que Bia tinha
chegado. Neste momento, Gabriel que antes estava comigo, me deixou só com Bia.
Era mais ou menos 17 horas, eu sentia muita dor e a Bia me fazia massagens para
aliviar.A presença dela foi transcendental. Me respeitou e me ajudou 100%. Eu
girava na cama, me levantava, deitava, cantava e dançava muito. E ela sempre ao
meu lado.
Chegou um momento em
que não houve mais intervalo entre uma dor e outra. Tomada pela dor, eu dançava
só ou com a minha doula, ela seguia o meu ritmo, meu passo. Não são memórias
claras, porque neste momento eu já estava em outra dimensão, mas sei que
cantava melodias feitas por mim e as dançava. Me lembro que também dancei com
Gabriel em alguns momentos que ele entrou no quarto. E assim segui o trabalho
de parto. Puro sons e movimentos.
Às 20h chegou a
parteira e fez o primeiro toque. E foi um dos melhores momentos quando ela
disse que eu já estava com 6 cm de dilatação. Isso era ótimo mais ainda
faltavam uns centimetros mais, então voltamos ao trabalho. Seguimos o ritmo da
dor.
Nessa hora escutei
falarem que não tinhamos bomba para encher a piscina que a parteira trouxe e já
não ia dar tempo fazer o parto nela. Nem tudo foi bem planejado, mas isso não
me abalou em nada, afinal se não foi é porque não era.
Mais ou menos às 22 h,
Regine fez o segundo e último toque, não senti incomodo em nenhum dos dois, ela
teve bastante cuidado para coordenar o toque e as contrações. Nesta hora eu
estava com 9 cm, o tão sonhado 10 cm estava chegando e não faltava muito para o
momento da expulsão. A dor estava ficando diferente. Muito mais forte. Tinha
uma vontade imensa de ir pro chão, instintivamente necessitava estar de
cócoras. Parecia um ímã que me empurrava pra baixo.
Tomei um banho rápido,
Gabriel me segurava, fazia uma super força para eu não cair, a lei de gravidade
estava intensa neste momento. Foi na hora do banho que escutei o PLOC. A bolsa
claramente tinha se estourado ali. Nessa hora vi que chegou Marina, minha amiga
que queria assistir o parto, eu nem tinha avisado a ela, deixei que o universo
faria. E fez. A vi de branco chegando no momento exato da expulsão.
Fomos pro quarto e o
momento naturalmente se armou. Me coloquei de cócoras ao lado da cama, pedi que
Gabriel ficasse atrás de mim e isso me ajudou demais, era o meu apoio nas
costas.
E aí foi só força...
força... força. Empurrar junto com Nina, que me pressionava por dentro. Eu,
Gabriel e ela fazendo força. A doula me deu a mão... a parteira sabiamente
observava. Ela coroava e eu sentia arder. Dor e força. Se eu falasse algo, era
cantando. Melodias que nem me lembro como saiam. E Gritava... muito. Não
economizei nenhum grito. Não pensava em nada. Acho que este é o momento mais
meditativo, não se pensa, só se faz, se sente.
Pedi um espelhinho pra
ver. Vi e pronto. Voltei pra força e pros gritos. Olhei pra frente e vi a cena:
4 mulheres na minha frente. Uma amiga rezava, outra filmava, parteira observava
e doula me dava uma mãozinha, literalmente. Eu de cócoras, Gabriel atrás de mim
e Nina querendo sair para ver a luz.
E ela veio, rápida...
não sei como, mas depois de um alivio a senti nos meus braços, quentinha,
molinha, suave. Vi que Gabriel chorava e eu cantava pelo mistério da vida,
"ai meu Deus". Passando um pouco a
emoção, era o momento de expulsar a placenta... um pouco de forcinha e pronto.
Ah eu me sentia
totalmente ocitocinada. Era puro amor e alegria. Até na hora que soube que
havia lacerado muito e eu tinha que ir a maternidade costurar. Tava tão feliz
que isso nem me importou. Na maternidade muitos me criticaram, mas eu só ria de
felicidade.
Infelizmente o cordão não
pode ser cortado por Gabriel, porque não tinhamos o clamps. Tivemos que
cortá-lo na maternidade e eu também não pude ficar com a minha placenta. Chega
no hospital e tudo muda, mas também admito que muitos ali cuidaram de mim e me
ajudaram quando precisei.
Enfim, o mais
importante eu já tinha, minha filha nos meus braços e a minha liberdade. Me
sentia livremente feliz e muito mulher. A Nina nasceu dia
07/07 às 22:44 e esse foi o grande milagre de minha vida.
Que lindo relato!Me emocionei demais!
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