23 de abr. de 2012

Tecendo Fios Sobre Parto - Parte 1

Falar sobre parto não é algo trivial, e até me considero ousada em entrar nesta empreitada! Parto não é sempre preto e branco, muito menos linear, passível de previsões certeiras e mecanismos de controle. Aliás, controle e parto não combinam. Parto tem mais haver com largar o controle e deixar a vida fluir dentro e através do corpo, que é sábio e  sabe por onde seguir. Parto tem haver com unicidade e pluralidade, entendendo que mesmo sendo fêmeas dotadas de poder para parir pela vagina, somos também indivíduos com histórias específicas, que muito influenciam na nossa relação com o mundo e crenças sobre nós mesmas. 


Por isto o momento do parto pode ser complexo e simples ao mesmo tempo, o quê tende  a confundir e amendrontar muitos, pois tem haver também com auto-confiança e aceitação do que é. Por isto que, nos dias de hoje, preparar-se é tão importante, pois existem muitas facetas que compõem este momento sublime: o grande rito de passagem, uma iniciação da mulher em sua maturidade, permitindo deixar o ser filha de lado para iniciar o ser mãe. Não se nasce sabendo ser mãe, muito menos se sabe ser mãe ao ter um filho; aprende-se sendo na prática, nos erros e nos acertos, no riso e no choro, e talvez, ainda assim, não se aprenda de fato. Mas se nasce sabendo parir pela vagina: carregamos no corpo as memórias de nossas antepassadas, desde os primórdios dos tempos, os gritos de dor e as lágrimas de alegria. O útero é a matriz da vida. Ele a recebe, a gesta e a coloca no mundo. Assim como a Natureza que planta sementes e pari frutos, somos também dotadas do mesma sabedoria primal.

Arraigados de vários elementos, o parto é em sua simplicidade guiado por mecanismos hormonais, que desencadeiam processos físicos, assim como é no momento da concepção. Em primeira análise, é o parto um momento puramente sexual. Se for permitido a mulher se sentir segura e protegida, os mecanismos internos iniciarão sua dança sublime até o momento do ápice. Mas, caso isto não aconteça, assim como os bichos, quando amedrontados, nós também temos os nossas defesas para com o externo. 


Há também as questões emocionais que envolvem cada indivíduo e o fazem ser o que são. São suas memórias e histórias de vida, traumas, dores, alegrias, e tudo o mais que é passível de ser sentido e codificado dentro do mais profundo de nossas psiques. No momento do parto ficamos mais perto de nossas sombras, e também de nossa força. Aquilo que está no mais profundo do ser é colocado frente á frente com nós mesmas, e seguir adiante, confiante, é o grande ato transformador!


No exato momento que o véu entre os dois mundos se torna fino, um portal se abre e a mulher que está parindo torna-se canal entre o mundo de cá e o mundo do além. É a morte e o renascer de uma mulher, junto com o nascer de uma nova vida! O parto é um momento fortemente espiritual, onde a criação está sendo re-inventada e ressignificada a partir do universo feminino. A mulher que é respeitada durante este momento, não resiste à morte e volta nova, curada. A mulher que é desrespeitada neste momento, morre e renasce com algumas cicatrizes e traumas. 


Tecendo Fios Sobre Parto segue em outros posts, onde mais fios acerca do grande rito de passagem Físico, Emocional e Espiritual serão adicionados à esta trama.


 


Amor,


Bia Barbalho - Doula da R.A.M.A.


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