“Não precisamos do seu Conselho para parir!”
Fonte: Blog Buena Leche
O
domingo do dia 17 de junho promete amanhecer rosa choque em várias capitais do
Brasil com a Marcha do Parto em Casa. Porto Alegre, Florianópolis, Salvador, Recife, Rio de Janeiro, São
Paulo, Belo Horizonte, Fortaleza, Brasília, Natal e mais algumas cidades do interior
serão palco de manifestações das mulheres pelo direito de escolher o local em
que querem parir, incluindo aí não apenas a recusa imediata de submeterem-se à
posição em decúbito dorsal e terem as pernas amarradas em maternidades públicas
e privadas do Brasil, mas principalmente o direito, garantido por lei, de parir
em casa, como quiserem e na posição que
acharem mais confortável no momento da expulsão.
As coisas pareciam calmas na área e,
ainda que os partos domiciliares mal batam em 2% no país, o interesse por essa
opção tem crescido no Brasil. As mulheres mais antenadas estão começando a se
dar conta que parir em casa pode, entre outras vantagens, ser uma forma segura
de não passar pela violência obstétrica http://www.partocomprazer.com.br/?p=2333
Mais do que isso, pode ser uma maneira seguramente amorosa de não sofrer e não
permitir que o filho recém-nascido sofra intervenções que podem vir a ser
prejudiciais à saúde física e emocional da dupla mãe-bebê, afinal o bebê
saudável está, segundo as evidências, http://www.scielosp.org/pdf/rsp/v45n1/1717.pdf
mais seguro no colo da mãe e mamando na
primeira hora de vida imediata e não sendo medido, pesado e vacinado antes
mesmo de mamar.
Mas então, afinal, se são só 2% e se
podem escolher parir em casa com os poucos obstetras e parteiras disponíveis, para
que manifestação em tantas praças públicas?
É que essa pequena parcela da população está sendo ameaçada de perder a assistência que quer e acredita merecer por represálias cada vez mais insistentes dos conselhos regionais e federal de medicina do país.
É que essa pequena parcela da população está sendo ameaçada de perder a assistência que quer e acredita merecer por represálias cada vez mais insistentes dos conselhos regionais e federal de medicina do país.
Um dia após uma matéria sobre a segurança e legitimidade do parto domiciliar,
feita pelo Fantástico, programa da Rede Globo de televisão, o Conselho Regional
de Medicina do Rio de Janeiro-CREMERJ- enviou denúncia http://www.jb.com.br/rio/noticias/2012/06/11/cremerj-abrira-denuncia-contra-medico-que-defende-parto-domiciliar/ ao Conselho Regional de Medicina de São Paulo-CREMESP-
contra o obstetra Jorge Kuhn, que concedeu entrevista ao programa dominical. http://globotv.globo.com/rede-globo/fantastico/t/edicoes/v/parto-humanizado-domiciliar-causa-polemica-entre-profissionais-da-area-de-saude/1986583/
Muito
amena, rápida e de pouca profundidade, como é praxe do estilo Rede Globo, a
matéria sequer falou das evidências que comprovam ser o parto domiciliar tão
seguro quanto o hospitalar para as gestantes de baixo risco. O obstetra Jorge
Kuhn afirmou com veemência que apenas gestantes de baixo risco devem optar pelo
parto domiciliar. E mais nada, a entrevista com ele foi editada em cima dessa
fala que reporta os espectadores exclusivamente para a questão da segurança,
sem abordar as muitas vantagens dos partos domiciliares já comprovadas por
estudos da Medicina Baseada em Evidências.
Rapidamente
alguns obstetras simpatizantes e praticantes da humanização do parto e do
nascimento se uniram às redes de mulheres que exigem que se cumpra a lei da
liberdade de escolha pela posição e local do parto; criaram uma carta aberta e
uma petição pública.
Mais do que defender um colega, a
carta e a petição exigem publicamente que os conselhos regionais e federal de
medicina respondam com base em evidências às ameaças e atitudes arbitrárias
baseadas em crenças médicas derrubadas por sucessivos estudos científicos nos
últimos anos.
O cerco contra as atitudes arbitrárias dos conselhos de medicina está fechando e se os médicos que apoiam as políticas dos conselhos acham que estudaram demais para graduarem-se e que todas as pessoas que criticam os abusos médicos e as iatrogenias são invejosas e gostariam de ser médicas; é bom rever conceitos e ler mais publicações baseadas em evidências porque é isso que as mulheres comuns, leigas de todas as profissões, e mesmo as não graduadas andam fazendo para reivindicar direitos e uma prática baseada em recomendações científicas, não em maus hábitos, crenças pessoais e interesses particulares dos obstretas.
O cerco contra as atitudes arbitrárias dos conselhos de medicina está fechando e se os médicos que apoiam as políticas dos conselhos acham que estudaram demais para graduarem-se e que todas as pessoas que criticam os abusos médicos e as iatrogenias são invejosas e gostariam de ser médicas; é bom rever conceitos e ler mais publicações baseadas em evidências porque é isso que as mulheres comuns, leigas de todas as profissões, e mesmo as não graduadas andam fazendo para reivindicar direitos e uma prática baseada em recomendações científicas, não em maus hábitos, crenças pessoais e interesses particulares dos obstretas.
A
perseguição às parteiras na década de 1940 praticamente baniu a prática do
parto domiciliar no Brasil. O parto, inicialmente um ato fisiológico, feminino,
um verbo, uma ação, passou a ser um ato médico e a cesariana, um ato médico de
fato, começou a ser usada para desqualificar a potência do corpo feminino, como
explica tão bem o osbtetra Marcos Leite dos Santos, em tese pela Universidade Federal
de Santa Catarina UFSC:“A história da
obstetrícia é a história de uma luta em busca de poder. A história da
obstetrícia é a história da exclusão da mulher, da depreciação do universo
feminino, da transformação de uma atividade inerentemente feminina, natural e
fisiológica em um procedimento médico, androcêntrico, tecnocrático e cheio de
riscos imanentes” http://www.tempusactas.unb.br/index.php/tempus/article/view/829/792
O
modelo hospitalocêntrico no Brasil é tão arraigado que quando uma mulher não
consegue segurar a expulsão do bebê e acaba parindo na segurança do lar,
sozinha ou assistida por bombeiros, é removida imediatamente para um hospital
em vez de ser atendida em casa por uma equipe multidisciplinar do posto de
saúde mais próximo. Fique claro que ao serem removidos, ela e o bebê correm
riscos maiores de contrair infecções ou vírus.
Enquanto
isso, na Alemanha, as mulheres não somente podem escolher como, onde e com quem
querem parir, como também podem optar por um parto considerado como de risco
maior mesmo pelos humanistas, como o parto desassistido.
Enfim, é muito retrocesso, em vez de estarmos
discutindo o quanto um parto desassistido pode ser mais perigoso do que um
parto assistido por profissionais da saúde que estudaram as várias indicações
para remoção etc, estamos discutindo se um parto é um ato médico e
necessariamente hospitalar, estamos discutindo por que perder 2%, 5%, talvez
daqui 20 anos 30% de clientes parturientes, é tão importante para a corporação
política e econômica da medicina.
E nessas horas a única coisa que vale é mesmo as
mulheres irem para as ruas com os cartazes que gritam: "Não precisamos do seu
Conselho para parir".
Em Natal estaremos também aderindo ao movimento, mas de uma forma diferente - realizaremos um pique-nique no Pq. das Dunas para discutir e esclarecer as pessoas sobre a situação e faremos panfletagem com uma versão simplificada da Carta Aberta à Sociedade !!! Contamos com sua presença para se juntar conosco nesta lula!!!
Local: Bosque dos Namorados (Parque das Dunas)
Data: 17 de junho, domingo
Horario: 15hs
Contatos Marina Viana e Rosário Bezerra